sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Vésper

Dias há, meu bom Pelarus, em que tudo pára.
O tempo, a vida, a vontade, tudo estaca e trava, como uma floresta petrificada em evos de estagnação. E que fazemos nós?

Tu e eu hoje limitámo-nos, hoje, a revirar languidamente numa modorra inconsequente entre o sono e a vigília. Nada mais restava que entrançar os sonhos com a dormência de curtos despertares para verificar que ainda não era tempo.
Tempo?! Tempo de quê? Tempo de coisa nenhuma. Porque terão todos os momentos de ser valorizados como se fossem a única coisa que restasse das nossas banais existências? Os momentos não são, nem terão de ser, todos iguais do nascer até a morte.

E os outros o que fazem em dias assim?! Oh, pobres almas! Esses limitam-se a continuar, contrariados, desempenhando os papéis que todos lhes apontam e que eles se resignam a aceitar como seus.
Eu disse aceitar e não assumir! Há uma diferença entre os dois termos. Uma abismal diferença! Se eles os assumissem não sofreriam a devastadora frustração que os arrasa e faz sentir menos que... pó (para não ser mais depreciativo).

Oh, Pelarus! Mas também voltará o dia em que iremos nos submeter a essa infame regra da ignóbil condição que é o ser-se civilizado. Os nossos dias de estúpido abandono existencial se aproximam do seu termo anunciado. A Fera espera, rugindo surdamente, pela nossa retoma. Ela irá querer seus tributos de volta. Não perdoa.

Sabes Pelarus? Um amigo tubarão-de-pontas-negras me confessou que a sua espécie dispõe dum sentido barométrico com que ele percebe as variações de pressão, possibilitando-lhe assim prever a aproximação de furacões. Desse modo eles fogem para águas mais profundas, de modo a se protegerem das violentas vagas gigantescas e consequente agitação das águas superficiais.
E nós, Humanos de superior inteligência e civilizados, que fazemos? Hahaha! Só dá para rir mesmo... Nós construimos cidades sobrepovoadas à beira-mar, sem nenhuns projectos de estudo geológico ou ambiental.

Já notaste, meu amado Pelarus, como nossos corcéis-alados pastam tão tranquilamente? Que Paz...! Hum... Deixemo-nos levar pela brisa vespertina...

Sem comentários: