segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Voando

- Vem, Pelarus! Os unicórnios alados nos esperam perto do rio, fora da cidade. Apressemo-nos!
- Vamos ver a dança das cores. Não te poderei explicar. Quando lá chegarmos poderás verificar por ti.

Os graciosos corcéis aproximaram-se de nós assim que nos ouviram restolhar nas folhas caídas do pequeno bosque, onde se haviam escondido dos olhares inoportunos. Apressámo-nos a montar e agarrar nas suas crinas para nos mantermos equilibrados. Eles trotaram velozes até uma clareira e, aí chegados, com um impulso... já nos encontrávamos voando, impulsionados pelos fortes batimentos das alvas asas emplumadas. 
Eu sabia que a nossa sustentação se devia mais à sua capacidade de levitação. As asas serviam para algum impulso de velocidade e estabilização, assim como para manobrar.

Voámos alguns quilómetros ao longo do rio, um pouco acima das copas das árvores, mas logo que a geografia do terreno se começou a tornar mais irregular e rochosa, rodamos afastando-nos do rio e rumando em direcção aos contrafortes da imponente serra que se erguia altaneira, estendendo-se em espinha pelo horizonte.
Com o aproximar dos íngremes penhascos e encostas rochosas, fomos ganhando altitude. O ar ia ficando rarefeito e mais frio.

- Sim, não trouxemos roupas apropriadas para este frio, mas logo chegaremos ao nosso destino. E lá estaremos mais aconchegados, te asseguro, meu querido.

Os unicórnios voavam entre penhascos, uns mais íngremes que outros, evitando subir muito para nosso conforto. Por vezes atravessavam um vale, cavado por um rio oriundo dos picos mais elevados e brancos de neve. Esses vales enchiam-se de floresta, numa exuberante exaltação de vida e vitalidade. A natureza no seu esplendor!

Finalmente as nossas montadas pousaram num vale escavado por um velho glaciar, cuja parede de gelo não se encontrava muito longe. Uma imponente barreira branca, da qual escorria um ribeiro azul, cristalino, que se apressava pelo leito rochoso em busca de outros, que com ele formariam os rios que alimentariam as florestas nos vales mais abaixo.

Com passo cauteloso, devido às pedras soltas e seixos, os unicórnios encaminharam-se para a entrada duma caverna, que se abria na parede quase íngreme da montanha. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Transportes em Sulus

Bem, bom Pelarus, em Sulus não há tráfego de veículos de combustão; nem tão pouco as artérias são asfaltadas.
O transporte prioritário é o metro-ligeiro de superfície, movido a energia eléctrica, complementado por um serviço em rede de bicicletas e segways de permuta.

Todos os veículos, provenientes de fora da cidade ficam estacionados num silo automóvel à entrada da cidade. Esse edifício, além de recolher e resguardar os veículos de transporte individuais, serve também como centro de produção de energia eléctrica. As suas fachadas e tecto são revestidas de paineis fotovoltáicos; assim como no seu telhado estão montadas várias unidades eólicas de produção de energia (aerogeradores). Essa energia aí produzida, como toda a energia eléctrica produzida por todas as unidades de produção espalhadas pela cidade, é canalizada para a rede geral de distribuição.

O silo para automóveis fica no extremo da estrada que liga Sulus ao resto das cidades. A estrada acaba na praça em que se situa o silo e o interface de transportes que permite o transbordo de passageiros dos transportes externos para os transportes internos da cidade. Nessa praça também se situam a estação-terminal de caminhos de ferro e de caminonagem.

Igualmente os veículos de transporte de mercadorias terminam a sua viagem na mesma praça, por aí se localizarem os armazéns de recolha de mercadorias, a partir dos quais é feita a sua distribuição pelos vários destinos na cidade. Para tal são utilizados pequenos veículos próprios que circulam nas linhas de metro.

Do interface de transportes na entrada da cidade saem várias linhas de metro, orientadas em várias direcções e que se integram na grelha de metro que liga todos os pontos da cidade. Assim o transporte externo à cidade é impedido de circular nas artérias da cidade, tendo todos os seus ocupantes que optar pelos modos de locomoção local.

No interface há também uma estação de bicicletas e segways (de fácil utilização, pois a cidade é plana, sem relevos) providos ambos os veículos de um monitor digital com o mapa da cidade onde continuamente aparece a sua localização, para orientação do forasteiro que desconhece a cidade e precisa se orientar. Para a circulação das bicicletas e segways há vias pavimentadas próprias, que ligam várias estações de depósito e permuta. A sua utilização é gratuita, devendo o utilizador depositar os veículos no fim da sua utilização na estação de recolha mais próxima do seu destino, possibilitando assim que fiquem disponíveis para outros interessados.
Para uma boa gestão da distribuição pelas várias estações de permuta destes veículos de locomoção individual, há um serviço de controlo dos stocks pelos vários postos que se encarrega de recolocar as unidades em falta. Para tal são utilizados pequenos veículos de carga, próprios para o seu transbordo, que circulam pelas linhas de metro entre as várias estações. Convém acrescentar que cada estação de veículos de circulação individual fica junto a uma paragem de metro.

Falei que as artérias da cidade não são asfaltadas. Não são mesmo, meu caro Pelarus. São relvadas! A relva não é incompatível com os carris do metro-ligeiro que percorrem toda a cidade.
Algumas das artérias e praças são lajeadas em certas zonas, cabendo aos arquitectos urbanistas e paisagistas a definição das zonas a lajear. Além de que, como já referi, a cidade é percorrida por ciclovias pavimentadas, de largura suficiente a que duas bicicletas, ou segways, se possam cruzar em segurança.
Mas a rede de ciclovias, embora sirva todas as zonas da cidade, não percorre todas as artérias, servindo apenas para ligar as estações de permuta existentes nas praças principais de cada bairro.

Todo o sistema de urbanização da cidade foi pensado em função das necessidades do indivíduo e das suas acessibilidades. Por isso foi dada uma especial atenção aos transportes, baseada na política de total impedimento de circulação de veículos externos. A prioridade única foi dada aos transportes disponibilizados pelas entidades administrativas da cidade. O transporte individual personalizado é inexistente; ninguém possui o seu próprio veículo de locomução interna na cidade. Os que quiserem ter veículos prórios de transporte (automóvel ou moto) podem fazê-lo apenas fora da cidade, a partir do silo de automóveis.

Em Sulus todos gostam de caminhar, usando apenas o metro ou as bicicletas e segways, para distâncias maiores, ou por necessidades particulares (tempo ou incapacidade física).

Vamos experimentar uma volta de segway, Pelarus?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Apenas Ousar

Vem, meu bom Pelarus! Hoje caminharemos.
Nossos corcéis nos acompanharão livremente.

Subamos aos picos varridos pelo vento rarefeito das gélidas altanarias. Ah! Como me sinto leve que nem um colibri irisado!

O néctar divino estava fresco e escorria pelas nossas gargantas alegremente. Celebrámos as mágoas e o esquecimento. Agora nossos passos são ligeiros e mal afloram a erva fresca e viçosa dos prados do Vale das Sombras. Ébrios seguimos na peugada dos Deuses.

Ah!!!... Só assim os alcançaremos!

Vem! Meu amigo! Amparemo-nos, ombro a ombro. O Palácio de Hermes já não está longe. Lá pernoitaremos, hóspedes da cumplicidade duvidosa da sua androginia maliciosa. Há momentos na vida em que devemos ousar. Apenas isso: ousar.