segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Seixo Branco

estava languidamente deitado ao sol...

Sentia o seu calor vir até mim, tocar-me a pele com ardor, afundar-se no meu corpo, enquanto cobria com uma cortina incandescente os meus olhos cerrados. A areia, debaixo de mim, sustinha a lassidão do meu abandono, inerte, sem um gesto que me despertasse daquele enlevo.

Perto de mim marulhavam as águas num convite contínuo. Oferecendo-se servis aos meus devaneios...
eu era um devaneio.

Levantei-me... ergui-me da languidez que me enovelava, olhando a extensão de água à minha frente, a sua superfície de jade ondulante. Lavado de qualquer expectativa movi o corpo até ao mar e mergulhei a minha nudez na massa morna e líquida, que de imediato me abraçou...

Nadar é sentir um vento mais espesso jogar com massas e volumes. 

A liberdade de movimentos levava-me além de mim. Eu era ali, no meio daquele turbilhão de bolhas e remoinhos, com que expressava a minha alegria.

Deixei-me flutuar apenas... deitado de costas na superfície das águas, o sol cintilava no peito que arqueava ritmadamente, a pequena ondulação massajava-me, empurrando-me para a praia, onde as pequenas ondas iam-se espraiando acariciadoras. O areal, enfeitado de cacos de conchas e pedrinhas, estava ali como tudo o resto. 
Eu também.

Molhado, ergui-me e caminhei. O céu era quase branco, no esplendor do meio-dia de verão. Vi um pequeno seixo branco e sentei-me junto a ele. Não o toquei, mas podia sentir a superfície lisa, polida, opaca, abaixo da qual o sol tentava infiltrar-se. Sentia-lhe a massa espessa, cristalina, inerte, mas plena de matéria. Sentia-lhe a presença ocupando espaço, correspondendo às leis da física e delas dependendo. Senti o seu lugar no universo, entre a imensidão de coisas que o compõem. Senti-me nele, ocupando a sua forma, o seu volume, a sua massa. Desempenhava as suas funções e colhia os seus eventos. Senti conhecê-lo, aquele pequeno seixo branco ao lado do qual me sentara.

Depois voltei a deitar a minha nudez ao sol, desfrutando de tudo aquilo que era presente, ali, naquele momento.

7 comentários:

São disse...

Que a tua nudez seja sempre favorecida pelo Sol.
Um abraço.

ManDrag disse...

Salve! São

Que o Sol seja sempre benévolo para connosco!
Bom FDS, para ti.

Salutas!

. intemporal . disse...

Na superfície de jade ondulante a nudez do teu corpo quente, no avesso constante.

Não há efemeridade que ponha em causa a plenitude das tuas palavras.

A morreres, será de pé e de pé TE aplaudo estridentemente e trago-TE depois, para dentro do silêncio, no [re]canto que se quer canto para sempre.

Abraço[-TE] ManDrag

São disse...

Continuas ao Sol? aindas insolas, rrrss
Beijionhos.

ManDrag disse...

Salve! Paulo

Obrigado pelo aplauso e pela presença, dissimulada mas sentida.

Te abraço ao Sol.

Salutas!

ManDrag disse...

São, minha amiga

Isso queria eu, estar estendido ao sol... um sol quente e tropical. :)))

Beijinhos.

São disse...

Que tenhas passado um Natal soalheiro, rrrsss

Abraço caloroso.