Desmontamos dos nossos corcéis, à entrada da enorme gruta e avançámos para o seu interior.
A caverna alongava-se na forma dum túnel e, quando os nossos olhos se habituaram à semi-obscuridade, pudemos distinguir a alguma distância da entrada um vulto humano.
Era alguém com estatura muito elevada e esguia, vestido com uma longa túnica, que lhe cobria completamente o corpo, mesmo o longo pescoço, deixando apenas a cabeça descoberta. Uma cabeça calva e alongada, de feições humanas, mas em que a parte do crânio era dum volume superior e mais alongado que o comum entre nós, humanos. Os seus olhos eram grandes, alongados e dum olhar intenso e profundo, contudo sem nenhum aspecto de agressividade. Não via no personagem algum sinal que indicasse não ser humano, embora em nada se assemelhasse a qualquer um de todos os tipos de humanos que eu já vira.
As mangas da túnica eram igualmente longas, escondendo-lhe por completo as mãos. Era uma peça de vestuário invulgar, pois dela parecia e emanava mesmo, uma leve luminescência suavemente esverdeada, que se reflectia nas paredes da gruta.
Embora de fisionomia esguia, tudo na sua figura ostentava uma dignidade e majestade harmoniosas e benevolentes. Sorriu-nos com um gesto convidativo a que se lhe juntassemos e, ao ver que assim o faziamos, virou-se e dirigiu-se para o interior da gruta.
Aquilo não era andar, aquilo era deslizar! O seu caminhar era tão elegante e ao mesmo tempo tão rápido, pois pela sua altura fácil seria adivinhar umas longas pernas debaixo daquela túnica, que eu e Pelarus tivemos de estugar o passo para a acompanharmos.
Eu falei «a acompanharmos», contudo nada parecia indicar o sexo do nosso guia. Toda a figura era andrógina no seu aspecto e modos. E demais nem ainda lhe ouviramos a voz, bastara apenas a sua postura e o modo de comunicar com gestos brandos, para que a seguissemos.
Mas seria isso mesmo relevante? A determinação do sexo da criatura que encontraramos e que acompanhavamos? Creio que em nada seja relevante para a narrativa, ou para o que se pudesse vir a passar.
Constrangido que estou pela gramática portuguesa, enquanto escritor lusófono, irei livremente optar por ambas as designações, tanto feminina como masculina, nas referências à criatura.
E o caminho se fazia longo, sempre descendo, cada vez mais para o interior. Túneis que desembocavam em cavernas vazias, umas mais amplas que outras, mas onde em todas a leve luminescência da túnica do nosso guia revelava as belas formações geológicas de estalagtites e estalagmites.
Numa ou noutra gruta encontrámos pequenos lagos, ou mesmo ribeiros escorrendo céleres para desaparecerem por algum túnel escavado ao longo de séculos e séculos.
Noutras ainda podiamos ver a iridiscência de cristais de rocha, que se projectava em miríades de pontos multicolores pelas paredes rochosas. Efeitos dignos dos mais elaborados vitrais, que alguma vez a criatividade humana pudesse conceber.
Por fim, a insigne criatura que nos precedia, voltou levemente a cabeça na nossa direcção e pela primeira vez lhe ouvimos a voz: "Estamos chegando." Anunciou com um brilho doce no olhar e um leve sorriso nos finos lábios da pequena boca. Eu quase tropecei num afloramento rochoso e Pelarus agarrou-se ao meu braço, como se estivesse tentando confirmar que não sonhava.
A voz era suave como um murmúrio, mas perfeitamente audível. E, mais intrigante ainda, parecia ressoar dentro de nós; como se as nossas almas a ficassem repetindo e repetindo.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Por Grutas e Cavernas
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6 comentários:
Muito fabuloso!
Mas... Onde vocês estavam chegando?
Que ser era esse?
Viajei alguns momentos na narrativa.
Salve! Lean
A narrativa tem início no texto anterior «Voando» e irá continuar no seguinte.
Quanto ao ser... talvez dê para perceber ao longo das narrativas dos textos que virão depois.
Beijos.
Salutas!
Impossível ler o texto neste momento.
Por favor abre os correios e informa-me.
Besos.
Salve! São
???
Beijos.
Continuas escrevendo maravilhosamente!!
Feliz e serena semana.
Salve! São
Bem-hajas pelo elogio, que vindo de quem não aprecia ficção fantástica, ainda soa mais lisonjeiro.
Feliz semana para ti também.
Beijos.
Salutas!
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